sábado, 27 de junho de 2009
Sonho meu
Sonho toda noite com minha casa da Rua João Moura. A casa está vazia, aluga-se ou vende-se. Nos meus sonhos ela está sempre cheia. Cheia de gente estranha. Não sonho com os dias da minha infância, não encontro lá meu pai, já falecido, minha mãe ou minha irmã, nem a Pimpa, bacezinha preta que fez parte da família, enquanto família houve. Nem os bolos de chocolate da minha infância encontro mais. Sonho com inquilinos porcos ou com corretores folgados, sonho que roubaram os aparelhos de ar condicionado! Queria sonhar com a rua de terra. É! Era de terra aquela rua, quando nos mudamos para lá. Havia cabras pastando ao redor da casa e lama nos sapatos em dia de chuva. Com nada disso, eu sonho.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Quando ele morreu
Por três longos anos chorei sem parar.
Chorava quando fazia amor, quando ia ao cinema
chorava de manhã, ao entardecer
chorava desesperada, de ódio, inconformada
chorava de ensurdecer, baixinho, de madrugada
chorava calada.
Hoje já não choro tanto
mas choro ainda tonta quando alguém chora.
Chorava quando fazia amor, quando ia ao cinema
chorava de manhã, ao entardecer
chorava desesperada, de ódio, inconformada
chorava de ensurdecer, baixinho, de madrugada
chorava calada.
Hoje já não choro tanto
mas choro ainda tonta quando alguém chora.
Nada a dizer
sábado, 20 de junho de 2009
No café
Alguém senta diante do computador para jogar uma bobagem qualquer. Alguém varre o chão. Duas amigas conversam enquanto tomam o lanche. Um homem só, acompanhado de uma mala preta, não come nada, não lê, olha para lá, olha para cá. Quem espera? Duas outras solitárias cutucam seus celulares. O homem-só atende o seu. Fala rápide e desliga. Sorri, ergue o polegar para alguém que vem de fora. Levanta-se e cumprimenta o outro. A princípio pensei que fosse filho, mas não era tão jovem assim. São amigos. Irmãos não devem ser. Um é careca, o outro não, um é baixo, o outro alto, um é... não são irmãos. Serão um casal? Uma das solitárias se vai acompanhando uma amiga que veio lhe buscar. A outra agora fala ao celular. E a outra solitária, gorducha e corada, da qual ainda não falei e que escreve compulsivamente em um guardanapo de papel, acaba de receber seu lanche, abre um sorriso para o garçom, agradece e para de escrever, para comer.
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